domingo, 25 de janeiro de 2015

MORTE DA SRA. MERCEDES RAIA LESSI, PASSAGEIRA DO NAVIO MSC PREZIOSA: MAL SÚBITO OU TRAUMATISMO CRANIANO QUE NÃO TEVE UM ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA ADEQUADO???


Lamentamos profundamente a morte da Sra. Mercedes e pedimos permissão para manifestar nossos sentimentos a toda sua família. Tentando entender as causas de mais essa tragédia, vamos relatar outra tragédia, que ocorreu no ano passado e que foi profundamente estudada pelas autoridades.
Em fevereiro de 2012, morria na UTI de um hospital em Santos a jovem FABIANA PASQUARELLI, tripulante do MSC Armonia.
Após uma investigação minuciosa do acidente fatal, o Auditor-Fiscal do Trabalho, Sr. Jansen Wagner Gallo, identificou várias causas e registrou em um documento denominado “RELATÓRIO DE ANÁLISE DE ACIDENTE DO TRABALHO” (veja o documento na íntegra no seguinte link:

No item 10 do documento, página 10, sob o título “Medidas de Proteção que em conjunto poderia ter evitado o acidente”, dentre as várias medidas propostas constava o seguinte:

·        “Atendimento hospitalar imediatamente após o quadro de saúde de Fabiana ter apresentado piora, ou seja, ter feito transferência imediata da paciente de bordo para a terra, independentemente se a embarcação se encontrasse em viagem pela costa brasileira ou atracada.”

·        “Existência de plano específico de emergência para a retirada imediata de pacientes de bordo para terra, com o uso de meios adequados e mais rápidos ao momento e localização da embarcação (p. ex.: helicóptero, lancha rápida)...”

Tais medidas de atendimento de emergência poderiam ter salvado a vida da Fabiana. Da mesma forma, conforme relatos da própria família da Sra. Mercedes (veja links de reportagens, abaixo) em relação à precariedade do atendimento médico dentro da embarcação da MSC, podemos supor que uma transferência emergencial através de um helicóptero, por exemplo, do navio para a UTI de um hospital, poderia ter feito a diferença entre a vida e a morte.  Segundo a declaração da neta, Bruna Reis" a queda ocorreu por volta das 20h30, quando estava indo jantar, mas o coraçãozinho dela só veio a parar às 9h do dia seguinte. Não poderia ser mal súbito, não é mesmo?". Ou seja, entre o momento da queda e o falecimento, passaram-se mais de 12 horastempo mais do que suficiente para transferência de emergência a uma UTI de hospital. 

Ao comentar o acidente, o genro da Sra. Mercedes, Sr. Valduir, lamentou o fato do navio não ter estrutura médica para atender o caso de sua sogra"A embarcação não possui uma Unidade de Terapia Intensiva. A Mercedes apresentou sinais vitais após a queda, precisava de um atendimento apropriado e urgente. Os médicos fizeram os primeiros socorros, mas não tinha na unidade os equipamentos necessários para o caso dela"declarou o Sr. Valduir.

Obs.: Mais detalhes da morte da Fabiana, veja nos seguintes vídeos:



Ao contrário do que normalmente dizem as armadoras de navios de cruzeiros, a maioria das vítimas fatais, passageiros e tripulantes, não é produto de “fatalidades”, como querem nos fazer crer, mas sim da falta de medidas de segurança, emergência e proteção, situação que se agrava na medida em que O BRASIL AINDA NÃO TEM UMA LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA DO SETOR DE CRUZEIROS, APESAR DESTE SEGMENTO TER CRESCIDO MAIS DE 600% NOS ÚLTIMOS 10 ANOS.
AINDA NÃO TEMOS NO BRASIL SALVAGUARDAS JURÍDICAS, NEM PARA TRIPULANTE E NEM PARA PASSAGEIROS.  Isto significa dizer, que se a família da Sra. Mercedes quiser, por exemplo, a requisição das gravações das câmeras do navio para a investigação do acidente, dificilmente irá conseguir, porque as armadoras têm “blindagens” jurídicas, justamente pela falta de uma legislação específica brasileira. Ou se quiser processar a armadora por entender que não houve um atendimento de emergência adequado ou omissão de socorro por não lançar mão de recursos para transferência da Sra. Mercedes a um hospital, encontrará enormes dificuldades para isso. Até mesmo as autoridades brasileiras têm dificuldades, por exemplo, de acesso às gravações de câmeras e, no caso de crimes, da preservação das provas. Dificultar as investigações, lamentavelmente, tem sido o padrão de comportamento das armadoras de navios. Para elas, a imagem comercial da empresa vale mais que uma vida e isso tem que mudar. Está na hora das autoridades acabarem com a impunidade. Por que não, começar pelo caso da Sra. Mercedes?  
E, lamentavelmente, nada disso é falado pelas agências de turismo aos passageiros, tampouco existem alertas e orientações por parte do governo ou EMBRATUR. Da mesma forma, agem as agências de recrutamento de tripulantes brasileiros, da qual temos denunciado sistematicamente.
Em 2010, nos EUA, depois de vários anos de luta dos membros da ICV (International Cruises Victims), associação americana de vítimas de cruzeiros internacionais, com ajuda de dois parlamentares, foi aprovada no congresso americano e assinado pelo atual presidente Barack Obama, uma legislação específica onde são asseguradas salvaguardas para passageiros e tripulantes. 
Há extensos estudos estatísticos realizados pela ICV, com o apoio do professor norte-americano PhD Ross A. Klein, junto aos eventos ocorridos nos navios de cruzeiros em todo o mundo, principalmente a partir de 1995, demonstrando um número cada vez mais assustador de crimes e acidentes graves como estupros, homicídios, desaparecimentos, etc. Todos estes dados e estudos estão publicados no site da ICV: http://www.internationalcruisevictims.org/
Aqui no Brasil, a partir da luta incansável dos familiares de Camilla Peixoto Bandeira, jovem tripulante da MSC Musica assassinada dentro do navio em 2010, um grupo de vítimas e seus familiares se organizaram e estão em vias de se transformar em associação nacional conhecida atualmente como OVC (Organização de Vítimas de Cruzeiros). Inspirada na luta das vítimas americanas, a OVC, em diversas audiências públicas e encontros, vêm apresentando às autoridades brasileiras um conjunto de propostas de salvaguardas para tripulantes e passageiros. Isso já motivou o Senado Brasileiro, em outubro deste ano, a apresentar 3 Projetos de Leis sobre o tema e ainda está em tramitação. Nossas propostas, assim como a gravação de algumas audiências públicas, podem ser encontradas, respectivamente nos seguintes links:


Junto com o processo de regulamentação, é fundamental que as autoridades brasileiras (Marinha, Polícia Federal, Ministério do Trabalho, Ministério Público Federal, Embratur, Anvisa, etc.) lancem, desde já, medidas de proteção à passageiros e tripulantes, das quais foram exaustivamente debatidas nas audiências públicas, para evitar que novas tragédias como a da Sra. Mercedes ocorram novamente nesta temporada. Não podemos mais admitir que todos os anos tenhamos que enterrar nossos familiares, vítimas de acidentes e crimes em navios de cruzeiros.

Artigo escrito por Alexandre R. Frasson -  Membro da OVC
aribfra@gmail.com

  
ALGUMAS REPORTAGENS EM RELAÇÃO À MORTE DA SRA. MERCEDES


1 - REPORTAGEM EXTRAÍDA DO SEGUINTE LINK (grifos nossos):


Idosa de Londrina cai de escada em cruzeiro marítimo e morre
Transatlântico MSC Preziosa vai atracar com o corpo de Mercedes Lessi em Salvador, no sábado

A viagem dos sonhos da aposentada Mercedes Raia Lessi, de 87 anos, se transformou num pesadelo com final trágico. Mercedes morreu na manhã desta quarta-feira (20/11) quando retornava de uma viagem à Europa, a bordo do Transatlântico MSC Preziosa. Segundo a família, a idosa teria caído de uma escadas e batido violentamente com a cabeça, na noite de terça-feira (19). Mercedes foi encaminhada ao Posto Médico da embarcação, na companhia das duas filhas, mas morreu 12 horas após a queda. A aposentada morava em Londrina, no Paraná. O navio com o corpo da idosa vai atracar no sábado (23), em Salvador.
O genro de Mercedes, o publicitário paranaense Valduir Pagani, contou que Mercedes viajava na acompanhada das duas filhas, Darli Meiri Lessi e Dirleni Luiza Lessi Pagani. Quando aconteceu o acidente, a embarcação havia saído da Itália em direção ao Brasil. "Ela [Mercedes] estava se encaminhando ao restaurante do navio para jantar e tropeçou na escada e caiu. Na queda, ela bateu com a cabeça e ficou com um hematoma e chegou a vomitar", contou Valduir. 
Segundo Valduir, Mercedes era uma pessoa muito alegre, com uma vitalidade impressionante, não aparentava a idade que tinha e ainda sonhava com o cruzeiro marítimo para a Europa. "Ela sempre dizia que queria viver até os 100 anos de idade", contou emocionado Valduir. Ao comentar o acidente, o publicitário lamentou o navio não ter estrutura médica para atender o caso da idosa"A embarcação não possui uma Unidade de Terapia Intensiva. A Mercedes apresentou sinais vitais após a queda, precisava de um atendimento apropriado e urgente. Os médicos fizeram os primeiros socorros, mas não tinha na unidade os equipamentos necessários para o caso dela", contou Valduir. 
Na manhã desta quarta-feira, a família de Mercedes conseguiu autorização para o corpo da aposentado ser liberado em Salvador, primeira parada do navio ao retornar ao Brasil, seguindo para o porto de Santos, em São Paulo. "A companhia não queria seguir com o corpo para Santos, para não atrasar a viagem deles. Com isso, a família teria mais dias de angústias, inclusive as duas filhas que estão embarcadas. Mas ficamos sabendo hoje que as autoridades definiram que o corpo será liberado em Salvador e, após a perícia, faremos o translado para Londrina", contou o genro da idosa. 
Em nota, a MSC Cruzeiros informou que Mercedes Raia Lessi teve um mal súbito, sofreu uma queda e faleceu na terça-feira (19), a bordo do navio MSC Preziosa. "A hóspede estava acompanhada de suas filhas em roteiro da Europa para o Brasil. A companhia lamenta muito o ocorrido e se solidariza à família", disse a empresa.
Em Termo de Transporte, empresa admite que centro médico "não está equipado a nível de um hospital em terra"
Os momentos de agonia vividos por Darli Meiri Lessi e Dirleni Luiza Lessi Pagani, filhas da aposentada Mercedes Raia Lessi, foram ainda mais intensos pelo fato delas não conseguirem a tempo um resgate para salvar a vida da idosa. "A nossa família não tem condições de pagar um resgate aéreo e, apesar da MSC estar prestando agora toda a assistência necessária, não apresentou para a gente um plano de resgate para salvar a vida dela [Mercedes]", contou o publicitário Valduir Pagani, marido de Dirleni. 
A MSC Cruzeiros esclareceu, através da sua Assessoria de Comunicação, que o Preziosa está em "navegação oceânica" e até a comunicação via satélite com o navio é precária. "Até o momento ainda não foi esclarecido se a hóspede Mercedes Raia Lessa bateu com a cabeça. Essa informação está sendo transmitida por membros da família, mas não temos certeza dos fatos", afirmou a assessora de comunicação da empresa, que também não soube dizer se a embarcação possui uma Unidade de Tratamento Intensivo para tratar de casos graves.


2 - REPORTAGEM EXTRAÍDA DO SEGUINTE LINK (grifos nossos) :

Brasileira que morreu a bordo de cruzeiro pela Europa sofreu traumatismo craniano, diz família.

A família de Mercedes Raia Lessi, 87, que morreu a bordo de um cruzeiro pela Europa na última terça-feira (19), disse que a causa da morte da paranaense não foi mal súbito, como notificou inicialmente a empresa MSC Cruzeiros, responsável pelo passeio marítimo.
"Minha avó tinha uma saúde melhor do que a nossa", ressalta Bruna Reis, neta de Mercedes. Segundo ela, a idosa, que fazia o passeio acompanhada de duas filhas, sofreu um traumatismo craniano após tropeçar na rebarba de uma das escadas do navio.
"A queda ocorreu por volta das 20h30, quando estava indo jantar, mas o coraçãozinho dela só veio a parar às 9h do dia seguinte. Não poderia ser mal súbito, não é mesmo?", questiona Bruna, que informou que o atendimento que a sua avó teve a bordo do navio foi bastante precário.
Apesar de o médico e a enfermeira terem sido bastante atenciosos, Bruna afirma que não havia estrutura suficiente para socorrer a sua avó"Ela foi atendida em uma cadeira de rodas, e nem mesmo o aparelho de pressão funcionava direito", conta.
A MSC Cruzeiros, no entanto, voltou a dizer que a queda de Mercedes foi provocada por um mal súbito e descartou que houvesse qualquer obstrução na escada. A empresa afirmou ainda que o laudo oficial da morte ainda não foi divulgado. 
Em nota, a MSC Cruzeiro rebateu também a crítica sobre a falta de estrutura médica e relatou que "todos os navios contam com centro médico e equipe a bordo para atender às necessidades de seus hóspedes quanto a um pronto atendimento". Os centros médicos, segundo o documento, dispõem de salas de observação, espaço de UTI e diversos equipamentos. E, em casos mais graves, providencia-se o desembarque do hóspede no porto mais próximo.
O corpo de Mercedes, que teve de ser congelado, passou três dias em alto mar e desembarcou nesta sábado (23), em Salvador (BA). A neta não deu detalhes de como será feito o translado até Londrina (PR), local onde vive grande parte da família e onde será feito o velório. Os demais tripulantes do cruzeiro devem chegar a Santos, no litoral de São Paulo, até terça-feira (26).








Nenhum comentário:

Postar um comentário